quinta-feira, 19 de novembro de 2009

SEGURANÇA


Tão belo e desajeitado... formas tão precisas contrastando com tão cínicos sentidos. Todos eles te traem meu caro. E com o passar do tempo, se desalinhas. Mas não pense que é somente por vingança que aqui exponho tuas deformidades segredadas. Todas estas imperfeições ainda me atraem... Quando o conheci, lembra? Era eu quem lhe negava prazeres. Mas embora tenha vontade de pegar o telefone e discar para lhe dizer: Enfia esta porra de telefone no cú enquanto ele ainda vibra, seu Zé bostinha de merda! Não o farei. Sim, pois sou um cavalheiro nos verbos e modos. E já tenho idade o suficiente para saber que mudamos de idéia. Tão simples assim. Sei que podes querer voltar como em tantas outras passadas vezes. Enquanto isso? Eu, que sempre trago problemas e sou capaz de gentilezas monstruosas, vou armando uma sincera vingança!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

PARÓDIA VETORIAL


No meio da minha reta tinha um Mané

Tinha um Mané no meio da minha reta
Tinha um Mané
No meio da minha reta tinha um Mané.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

terça-feira, 27 de outubro de 2009

GO GO BOY!


Ele dança com a alma aos soluços.

CHECK OUT


Me deixa por perto. Mais perto. Bem perto, tão por perto... assim praticamente dentro. Que eu quero entrar de cabeça no teu cotidiano. Te dobrar mil e uma vezes a cada noite. Abrir teus poros e extrair teu suor sem perder o ritmo. Tocar teu coração sem usar as mãos. Vou atrás de você quantas vezes quiseres. Nosso lance é tão natural quando livre de tanto termo verbal. Mas se ontem eu te entendia, hoje você me entedia. Dando tanto fora, tu segues cego, sem olhar para trás. E me deixa só... com esta pouca merda na cabeça!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

REENCONTRO


Se por acaso o telefone tocar. Se a gente pela rua se esbarrar. Ou até mesmo na festa eu te olhar. Foi engano. As vezes acontece, estarmos longe no tempo mas no mesmo lugar. E se eu não lembrar... desencana. Foi só uma vez contra tantas querendo esquecer. Perdoa minha canalhice que supero sua paixonite. Passou tão feroz e deixou um risco de tristeza no meu rosto. Passou tão veloz e deixou um cisco de frieza no meu olho. Compreendo em silêncio, você não? Cada volta que a vida dá parece nos dizer: toda dança é oferecimento da alma solta. Então bate na minha porta. Bate nas minhas costas. Bate no meu peito... qualquer movimento é batida do coração querendo além. Mas meu fígado pede menos. E eu te vejo outro cada vez que te vejo. Fico sem saber, se sigo ou volto. Então giro. Peão, parafuso, onda. Sem querer fiz este trato com a cidade. Dou o troco do destino. Mesmo que não toque o telefone, que estejam desertas as ruas e as festas não sejam só para mim, muito menos para você.
Não existem sinais indicando a contramão. Você pode ter certeza... foi engano.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

CARNAVAL


Dá um tempo. Eu te vejo e parece que perdi o capitulo mais importante da novela. A reviravolta da nossa possível trama. A repetida mesmice deste passível drama. Leva tua camisa de futebol já lavada. Devolve a samba-canção verde. Fala pra tua prima que mandei um beijo. Derrete mas não frita o cérebro. Raspa a cabeça antes de ir. O narguilé deixa comigo. Passa creme nas tatuagens. Usa camisinha e não dirige chapado. Vai, fica com esse outro cara. Que eu fico de olho nos safados dos teus amigos. Dá um tempo...

MANTRA KEANU REEVES


Abra-te sésamo da tua mente. 
Coração saqueado...
Abra-te sésamo dos teus olhos.
Oculto tesouro...
Abra-te sésamo dos teus lábios. 
Gestos logrados...
Abra-te sésamo das tuas pernas.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

CANTADO


Lá na porta, depois do terceiro último drinque, hora de ir embora:
- Não vai tirar a carta da manga?
- Carta? Manga? Do que você tá falando?
- Do seu truque da noite, não vai fazer?
- Cara, este truque já fiz...
- Mas quando foi isso que nem vi?
- Ah eu sim, quando sorriu prá mim!

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

ALVO


Uma questão para quando arfar veloz o peito apto ao disparo e cerrar os punhos com as mãos tomadas de explosivo suor. Quando não mais perceber qual direção seguir e seus pés quiserem golpear o ar a sua volta. Com os lábios anestesiados e a boca espumando depois do último brinde. Para quando as luzes ainda estiverem piscando e você estiver cego, com facas nos olhos. E uma voz soar grave e ininterrupta dentro da sua cabeça quente e cheia. Com as veias rígidas, latejando todo calor e fúria. Eu sei como é... preferir a morte ao invés da sorte. Eu sei como é... proferir a vida sem valor. Nós somos medo e desejo. Concentrados aos limites simplesmente para reconhecê-los, jamais dispostos a respeitá-los. Munidos de tédio e revolta... nunca tivemos a manha de nos safarmos impunes das encrencas em que nos metemos. Sabes como é, ver a mesma maldita cara em qualquer estranha face, pelo refletor, pela rua, pelo monitor. Por onde esta invasão? Qual fresta? Qual buraco? Onde a brecha do teu reino? Falhar o esquecimento enquanto vacilam os sentidos. Eis o sentido pleno do êxtase de não sabermos se vitoriosos ou derrotados quando finda outro combate... se inimigos ou aliados. Será que amanhã acordaremos lado a lado? Mas antes, me diga então, cada rajada que sai de ti... onde o gatilho???

domingo, 4 de outubro de 2009

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

FATO


Homem que não bebe cerveja nunca presta para muita coisa.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

CABINE


Eu gosto de versar sobre a noite
Quisera eu fosse ela eterna
Com o perigo sempre a espreita
em cada esquina
E suas promessas sempre
aptas a se cumprir
Todos os vícios convivendo
Em louca harmonia
Junto a indelicadas luzes
De todas as cores em infinitas órbitas
O fogo regendo todas as almas
E uma incessante música
Acariciando todos os corpos
Livres de qualquer gravidade
Eu gosto de versar sobre a noite
Quisera eu fosse ela eterna
Todos os astros sempre
pulsando em espacial celebração

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

DANÇA


Uma noite que ainda não se fez
Temores aliciados
Frases vacilantes
Corpos delirantes

Brutal suavidade
Anestesiando-lhe os lábios

Eu desconheço o calibre do teu olhar
Confuso com tantas cabeças
Com as mesmas sentenças
Armando romances
Avaliando relances

Jogos de letras e disparos
Ferimentos gozos alimentos couros

É só desabafo.
Vidraças estilhaçadas

Para mim e você
Todos sãos e sós
Todos péssimos e loucos
Todos metidos e gozados
Em guerras e bombardeios

Por cada beijo e amasso
jeito embaraço eixo desenlaço leito abraço

Tudo ali a espreita
Pelas costas
Coronhas e gatilhos
Munições e cinturões
Calores e calafrios

o inimigo é um reflexo inútil
pronto para atacar!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

INSONE


Quando toda a cidade adormecer. Na hora da última chamada. De ir para casa. De ir para a cama. Me lembrarei de você. Esteja onde estiver. Ainda procurarei em cada esquina. Tendo no pensamento teus movimentos agitados e suados. Tão cansados de amor e dança. Exalando todo álcool, toda pressa da semana. Nas pistas vazias... silenciosas. No trânsito livre. Na cidade pacífica, com o ar se purificando em sua soturna atmosfera. Ainda procurarei em cada bar. Tendo no pensamento teu corpo estendido e só. Com os beats desacelerados. A boca aberta, os olhos cerrados e as mãos entre as pernas. A grave respiração suavemente ritmada. Com o punch de tua presença desarmada e as luzes apagadas. Eu velarei teu sono homem. Rogarei por tua alma. Narrarei teus pecados tão aptos ao caos. Ainda que desconheça o paradeiro dos teus mais íntimos sonhos.

NOVELA


parte II


- Você não pode falar isso!
- Ah é? E por quê não?
- Ninguém diz um troço desses e sai impune.


Maldita hora aquela em que peguei naquela desgraça de orelhão e te acordei, tarde quente de feriado, para quê? Para irmos ao cinema. Merda! Merda! Merda! Pronto, falei mesmo e daí? Vi você se esquivando, e eu pensando: Não, não faça isso!!! Não deixa ele te beijar! Eu tô aqui... tô vendo pô...


Eu gritava por dentro!


Depois correu atrás dele, me empurrando. Quis te esquecer para sempre na mesma hora... Quis deixar aquele outro cara - de quem era super afim há muito tempo - sentar no meu colo, já que era a quinta vez que ele tentava nesta mesma noite. Mas não deixei. Lembrei do seu apartamento, olhei para as paredes, procurei pela frase do Rimbaud, e resisti. Resisti pela evasão que muitas vezes permiti ao meu eterno coração. O outro cara acabou pegando qualquer mané. Resisti pela coragem que teu sorriso me traz. Aqueles outros dois serão gratos a mim. Resisti por causa da árvore no seu escritório, que fica no quarto andar. Será que foi você quem carregou ela até lá? Seu prédio não tem elevador. Seus braços são bonitos. Gosto quando me tiram do chão.


- Senta mais perto, você tá tomando muita chuva aí.
- Você não me disse muito do que eu gostaria de ouvir...
- Você disse menos ainda.
- Pode ser qualquer lugar mesmo?
- Hum?
- Depende de mim você ir embora, é isso?
- Não, não, não é isso... mas seria muito melhor se me acompanhasse.
- Então vamos!
- Espera aí, vamos onde?
- Vem comigo que no caminho te explico.


Mas voltou, voltou e gritou meu nome. Tá, eu vou ficar remoendo esta migalha, essa miséria de abraço que foi provavelmente um milésimo de segundo do efeito da bosta de uma droga moderninha qualquer que provocou uma descarga - descarga! - de infame energia. Mas voltou, voltou e ficou lá, o mais viril da pista de dança, com os punhos cerrados e os olhos voltados para dentro. Como um boxeador após nocautear alguém. Mais tarde, nem tão tarde assim... me segurou pela cintura e hesitou tanto por causa desta porcaria de telefonema. Ódio, tanto ódio que chega a doer. Tudo bem, me desculpo sem razão, falo que gosto de você, da sua voz e vou embora. Sei sim, sei que muito do que digo não deveria nem pensar.


- Aquele dia, ao telefone, você ficou puto comigo.
- É, fiquei mesmo...
E só me lembro do absurdo!
- Absurdo.
- Absurdo? Absurdo é o quê hein? Eu ter te ligado? Você ter me levado para sua casa? Ou seja... eu - um maluco de suspensórios que foi chupado por você um final de semana inteiro, enquanto ria a seu contragosto, que foi espremido atrás de uma banca de revista por seus braços de remador - pensar que poderíamos ir ao cinema no feriado? Então me diz, que absurdo maior eu posso cometer? Hein?? Hein???


- Amanhã eu tenho que remar. Já tô indo embora.
- Eu também tô indo embora.


Tão bêbado e trôpego quanto cheguei em sua nuca com tímidos beijos, eu fui embora. Sentei lá fora e chorei. Mas só um pouco. Foi dos olhos prá fora. Feliz desta lagoa que te vê pelas manhãs.
Agora? Agora nada, somente mais uma cagada prá contar e divertir os amigos. Mas ele segurava a minha cintura. Se por vergonha ou medo? Sei lá. Mas segurou forte, pois me lembro nitidamente da sensação de ser segurado pela cintura quando na verdade queria com todo meu torpor um beijo violento. Sem mordida, somente um beijo daqueles de perder o fôlego. Um beijo que norteasse o resto da noite para sua cama.


- Você tem dignidade quando perde o fôlego desta maneira...
- Aquele cartaz ali fui eu quem fiz, demorei cinco dias colando estas bugigangas.
- Acendeu?
- Cuidado para não queimar o lençol.
- Você mora sozinho?
- Não, moro com meu irmão e o Mao.
- Mao?
- É! O gato, ele pensa que é um cachorro...
- Ele late?
- Não, mas...
- Você fala com paixão das coisas.
- Mas eu só tenho três paixões na vida: livro, maconha e trip-hop!
- Ai que lindo, adorei isto. Me dá um beijo?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

VELOZ


Tinha braços fortes e era bem baixinho. Muito baixinho. Mas eu gostava assim mesmo. Em noites frias, atrás da banca de revistas, ele sabia equilibrar-se no skate, abraçar apertado e beijar molhado. Tudo ao mesmo tempo.

CASAMENTO


Fui num sábado a noite de pouco movimento e muita chuva. Quando chegou, eu mesmo seria incapaz de imaginar a que veio. Sorria aquela boca de loucos beijos. Foi logo me chamando na xinxa. Tão alto e bonito. Com sua careca muito branquela refletindo a luz vermelha daquele bar. Larguei coqueteleira, gelo e avental para dar-lhe atenção. Pegou minha mão, me sentou num canto, ajoelhou-se no chão mostrando suas coxas muito branquelas de bermudas, me encarou e foi logo disparando:


- Vamos casar?
- Oi?
- É, casa comigo.
- Como assim?
- Casar meu filho, sei de um apartamento aqui perto para alugar. Já está tudo certo...
- Você está bêbado!
- Compro uma cama king-size também! Casa comigo?
- Você está muito bêbado!
- Deixa de chaturinha, levo computador, não se preocupa.
- Cara, você está realmente bêbado, o que você andou bebendo?
- Você tem que levar alguma coisa... o enxoval é por sua conta. Mas o aluguel tem que ser dividido.
- Você está bêbado, não vale!
- Pára de falar que eu estou bêbado, eu sei disso ... tô querendo que você seja meu amorzinho, casa comigo?

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

MUEZIM


Ontem pela noite, levitando de bar em bar, bebi o gênio da garrafa. Adormeci contigo invadindo meus sonhos. Sorria sem vergonha, cantando coisas inaudíveis com sua grave voz. Eu era disputado pelo brilho do dia e pelo breu da noite. Pois sonhar contigo é versar o horizonte infinito fugindo pr´um deserto sem destino. É perceber que estamos nas mãos do senhor dos mundos. Mas já que Ele nunca coloca dois corações no peito de um homem, como podes tu caber junto de tantos outros no meu? Realizava teus malucos desejos como ordens... aí acordei com uma vontade danada de mijar!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009


Agora vou te entristecer. Não quero me desculpar, nem posso pedir que me ajude. Mas vai, vê: não fica com raiva. Não tô afim de outro, nem de você. Gosto do teu sorriso, das loucuras que aprontamos pelas madrugadas na rua. Das contas divididas pelos bares. Ainda fico duro, mas chega da minha cara de pau. Sou eu apagando teus cigarros pela metade. Continua na boa, tenha fé no coração que gostei de te conhecer. Quero ver seus olhos alegres mesmo que seu telefone não toque. E que teu gigante corpo continue a crescer. Foi uma bela promessa, mas agora eu vou te entristecer...

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

NEGROS


- Alô?
- Oi...
- Tudo bem? Quanto tempo!
- Tudo bem... bem longe de babacas como você.
- Como?
- É isso mesmo.
- Que estupidez, por q...
- Cai fora!

Ah... meu amor de férias. Tão jovem, cara de estudante, grossas coxas brancas. Dentes claros e uma saudável combinação de dissimulada confiança com imaculada aura juvenil. Conheci-o na pista. Não lembro a música e nem a hora. Botei minha Heineken gelada em tua nuca. Embacei teus óculos com minha respiração. Tirou meus pés da pista. Perguntei teu nome, me beijou a boca. Teu nome repetia-se naquela pista. E no tempo que passou. Tanto nome para se ter, mas justo este? Caminhamos juntos para a tua casa... Não será necessário esmiuçar o restante desta história. Nenhuma carícia inédita para revelar, nenhuma regra pré estabelecida para se forjar. Meu esperto amor de férias. Ornado com urgência, despido de recato. Apelidado de qualquer diminutivo... Cresço em apego. Cresço dentre as pernas. Só por lembrar aquela promessa não cumprida. Acabadas estas férias, retorna para casa. Carrega meus gracejos. Volta no ano que vem. Que descarrego minha cerveja sobre ti. Minha metralhadora etílica cheia de mágoas. Esqueço tua voz, mas não do falso conforto por ela provocado. Ainda brincaremos em outras pistas. Seremos imbatíveis e inseparáveis. Em nosso teatro de fim de ano. Marcando o tempo livres de qualquer realidade. Um e outro. Já estivemos em ambos os lados meu amor... Conhecemos os opostos sabores de nossos corações sem dono. E cada interferência assistida é apenas o mascar de gatilhos viciados mirando a nossa própria cegueira. Sinceridade para quê? Quero-te feliz ainda que cego. Quero suas lágrimas ainda que morto. Teu corpo entrincheirado numa pista de dança extasiante. Confundo teu nome no tempo. Me perdoa senão faz muito sentido. Teu nome será sempre o mesmo. E teus olhos tão sinceros quanto olhos podem ser. Serão sempre meus. Na riqueza ou na pobreza. Teus olhos de Libanês. Na distância ou na doença. Teus olhos de Hezbollah. Na alegria ou na tristeza. Teus olhos de oriente médio. Até que a morte nos separe. Malditos olhos de Beirute!

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

FORA


Ele foi embora, levou alguma alegria e qualquer folia... a calça da adidas, o cartão de desconto no cinema e o isqueiro prateado. Não sei por que se foi. Passei a semana pensando e me doendo pela manhã. Levou as grandes mãos que eu tanto adorava, as gírias que ainda insisto em usar. Já não sei se nos braços novas tatuagens, se na tua cama outro cara. Ele se foi e levou o breu da noite nos olhos, a rouquidão grave das manhãs e a agudez de sonhos realizados antes de adormecer... Deixou um recado no celular, mas não atende ao telefone, se trabalhas ou vadias, desconheço... levou a leveza do tempo e o peso do espaço para onde posso apenas imaginar. O cheiro forte e quente que habita dentre tuas pernas, e aqueles rudes modos sempre a me preocupar, se foram . Foi embora mas ainda mora no mesmo lugar. Me exilou do teu endereço, fez de nosso passado um mero adereço. Ele foi embora, não voltou com o maço de cigarros, e nem voltará. Ele não fuma. Nunca fumou. Nosso lance foi curto e louco, restaram apenas poucas palavras e inúmeras vagas sentenças. Ele foi embora mas não esqueceu de se despedir. Deu nós nas pontas do cadarço do meu sujo e velho All Star. Me deixou tropeçar sem hesitar. Ele foi embora, domingo não tem mais almoço japonês. Nem beijinho no balcão do bar. Não deixou foto, nem canção. Ele foi embora, levou alguma folia e qualquer alegria... levou seus ciúmes, o sono suado e agitado. Ele foi embora, levou tua simulada sinceridade e tantos encenados êxtases de amor. Deixou um amontoado de distantes termos. Foi-se numa noite com a pista cheia de possibilidades, com a cara cheia de álcool e o rabo cheio de pó. Encheu teu saco com meu amor. Espremeu minha paixão que nem acne. Deu um sopro na minha platônica cumplicidade. Ele foi embora, não quer mais minha baba no seu ovo. Meu brigadeiro no ponto. Minhas músicas de preto. Meu farto bigode no cangote. Meu pau sem camisinha. Meus versos improvisados. Ele foi embora, não quer me ver de novo. Não quer me ver nem pelas costas.

RESSACA


Todo domingo eu queria ter outro fígado no lugar do coração.

sábado, 29 de agosto de 2009

ARRANHA CÉU


Mil noites
cafeína e cigarros
pistas de dança
monociclos e triciclos
sinais ou faróis?
naipes à esquerda
ganhar, perder
quantos anos você tem?
outras tantas ondas
o mesmo sol a nos reger
ainda é noite
espera, volta
o calibre da tua falta de vergonha
eu sou alvo instantâneo pros teus lábios
eu sou alvo eterno da tua fuga
corres para onde?
o mesmo sol a nos embriagar
é noite ainda
eu não sei quantos anos tenho
seus braços na direção
eu já posso cair em tentação
cafeína e cigarros
repetidas vezes
seu riso, meu ciso
te levantam pelo pescoço
globos de espelho
pichações em paredes
o temor do meu prazer
a pressa explícita da tua garganta
vodka, repressão
mil noites
eu não tenho mais o que fazer
um minuto
outro romance de começo infeliz
eu faço um rap da tua ausência
eu faço um rap disparado por
breves lutas
leve e bruta batida
em olhos cegos de esperança
por roucos ouvidos
confusa dança
eu faço um rap
monossílabos, tritongos
estéreis estéreos
eu faço um rap
torres, cavalos...
pistas de dança
penúltimo degrau
segredos forjados
prá te perder
ou aliciar tua tensão?
um minuto chega
é muito ainda
amanhã quem sabe
some, evorapora, vaza, desapareça
caia fora atento
já chega
mil noites
o mesmo sol a nos acariciar
a terra empaca
terremotos no japão
um minuto chega
é muito ainda
prazos de validade
da tua confusão
melhor assim
blecautes
acidentes de automóvel,
fumaça e lágrimas
nos olhos
mil noites
outro sol a nos queimar.

APARTAMENTO


Um flagrante:
- Quê isso?
- Vamos dormir aqui.
- Juntos? No sofá da minha sala?
- É que...
- Eu não gosto! Eu não gosto! Não Gosto!!!
- Tá, mas...
- Eu quero que vocês se levantem! Vão embora, cada um para sua casa!
- Nossa, mas não podemos nem ir para a mesma?

Disparo o alarme da portaria.

- Sabe que tenho pensado muito ultimamente? Que relacionamento é assim. Você conhece, beija, transa, e pode ser que se apaixone.
- Aí começa a descobrir coisas do outro que não gosta. E vice-versa. Porque paixão verdadeira tem que ser recíproca né? E fica tudo chato, você quer mesmo é fluir na boa, sabe? Nada deste papo de ter que ouvir o que penso.
- É isso. Se resiste ou não, depende de muita merda.
- E eu tô cansado de merda séria!

...


Eu olhei para ele e pude sentir-me fragmentado. Vago, eu sei. Mas era exatamente como me sentia. Incapaz de finalizar qualquer frase, qualquer pensamento. O que não saiba talvez - além das insanidades cometidas graças aquelas vodkas a mais em seu aniversário - é que tal sensação não me faz incompleto. Sim, pois todo pedaço que tenho de mim está em seu lugar, alguns explícitos, outros tão ocultos que chego a duvidar de suas respectivas existências. Espasmos. A vida tem destas coisas meus caros. O espasmo que foi aquela mensagem de celular... ou aquela aparição quase fantasma diante a portaria do seu prédio... Aonde quero chegar? Entre hesitante e confiante, o que me move são rictos, músculos involuntários de uma mente entre o feliz e o amaldiçoado. Mas se é para crer, que seja para o bem, para o positivo. Não que eu creia facilmente em frases magníficas de auto ajuda. Em momentos fáceis elas podem revelar-se intensamente verdadeiras.


- Mas que porra é esta de papo auto ajuda?
- Sei lá, estou seguindo, esperando que isto me leve a algum lugar.
- E onde este lugar? Senão em você mesmo?
- É, tá certo. Você é tão bobo, mais do que eu.
- Tsc, tsc. As vezes te desconheço...
- Porque este mal humor todo? A gente só está...
- Ah, não faz mal, me dá um beijo vai?

Eu não olhei para ele, mas abracei-o, coloquei minha mão no meio de suas pernas e beijei-lhe os lábios timidamente, ainda incerto se devia fazê-lo. Mas qual beijo não tem uma desmedida carga de incerteza? Um casal de noivos no altar, talvez? Ou o talvez seja a ocasião, a cerimônia para os amantes um agravante de toda felicidade e maldição?
Certas coisas batem pelos poros. Sim, não posso negar. Seu beijo é uma ponte. Exatamente, sem eu te amo, ou adeus, ou mesmo um telefonema. Este estar fragmentado é o que sinto pela noite me corrompendo a direção. Guiando meus olhos para onde quer que seja. O movimento dos teus braços tão fortes. O peito arfando sem querer.

Instantâneo. Disparei duas vezes.
Com outras aparições, com a mesma noite repetindo-se pela manhã na cama ao lado. Nestes instantes eu senti minha língua e dedos gigantes. Ah, que nada, pára e pensa. Levanta e faz barulho lá na sala. Daqui a pouco ele vem.
- Ele quem?
- O seu ciúme, por exemplo.
- ...
- Uma paixão que dê certo seria melhor.
- Eu não sirvo?
- Não, você não existe.
- Ele é muito agressivo comigo. Tá vendo?
Foi um soco, uma mordida. Mas foi também permissivo, gentil e carinhoso.
- Sou sim, mas é só...

Então ele aparece, aquele zé mané com cara e cú inchados - deve ser de tanto chorar e dar - este voz molenga. Não é coisa de macho que se imponha. Você precisa dar um jeito nisso. Como? Sei lá, aperta os bagos dele!
E nada.
Que porcaria de literatura é esta? Narrando assim, sempre da mesma forma, verdades e devaneios.

- Tá vendo? Já cheguei a algum lugar.
- Ai ai.
... somente uma forma de manifestar apego ainda que resistindo a ele.
- Isto precisa ser revisado.
- Ei! O que é isto? Você não é meu editor... Não interrompa minha narrativa!
- E você, pensa o quê? Que pode sair por aí fazendo merda só prá ter verdades prá narrar depois?

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

ULTRAPASSE PELA ESQUERDA


Acendo um cigarro. Outro cigarro.
Tic tac tic tac, parece óbvio,
mas o relógio no seu pulso, impelia...
fazer algo, sair dali.
Levanta os vidros da janela
abaixa minha calças.
O cheiro que não esqueci,
é sempre o mesmo quando possível
Calar a consciência,
é o que sempre busco em tais momentos
mas ela teima, instiga, fere
sinestésica convalescendo,
filha da puta inenarrável das tramas vulgares por onde tropeço
mas não, dela me esqueço.
Vai, que horas são?
Acaba logo porra!
A mentira que deixei de proferir,
o estrago do fora que levei no sábado à noite,
inevitável devido às circunstâncias ou a carência?
A carência entre as pernas, a espera entre os dedos.
Acendo mais um cigarro.
Caminho para casa de cabeça erguida.
Com o braço prá fora da janela.
Carícia no lugar dos cabelos
Seus nomes, minha cara ali.
São tantos endereços, telefones, vírgulas e adereços
qualquer papo besta.
Notas e explicações.
Mentais sensações, forjadas casualidades
fatalidades, situações.
Eu não te conheço?
agora já tenho preço.
O conforto desta boca
o desejo dentre os dentes
a cor das tuas grossas coxas.
Apego, cervejas
cardápios e camisinhas.
Livros, traições ao avesso
eu sei o que mereço.
Você sabe aonde caminhas?
um dois três quatro cinco
antes do fim
depois do recomeço
acendo um cigarro, outro cigarro
Tic tac tic tac, parece óbvio,
mas o relógio no seu pulso, impelia...

NOVELA


parte I


- Daqui a pouco não vou poder nem encostar em você...

- Não mesmo, já sofri muito por hoje.

Vaidade. Quem se precipita agora, é ele. Aparecendo nas tardes da semana,passando brevemente pelas mesmas noites... a toa, vagabundeando sem compromisso.C arência. Dispensando bebidas, fumando muitos cigarros, olhando com cara de piedade.

- Vai continuar estranho comigo?
- Estranho? (você sabe que fez por merecer)
- Vai pô, deixa rolar...
- E não estou deixando? (rolar o quê?)
- Eu sei que você não é assim, te conheço...
- O quê você quer de mim? (Ah, não conhece não!)
- Você não se cansa de responder com perguntas?

A última indagação foi outra indagação ou resposta para nenhuma delas? De repente o diálogo torna-se a principal, quase única razão que nos une. Seus olhos ficaram um pouco mais tristes... e voltam-se para trás em toda e qualquer breve despedida. Reclamações e suspiros loucos num jardim qualquer. Aquele cheiro de merda, o gosto de álcool nos seus lábios. A tua boca amarga, ácida, doce, molhada.

- Você tá trabalhando demais!
- ...
- Vamos sair hoje?
- Vamos para a esquerda ou direita?
- Não, eu quero ficar por aqui mesmo... por enquanto.

Será que nunca nos encontramos em nenhum mísero lugar comum???
Ele caminhando com a mão dentro de calça. Me chamando de ridículo, hesitando um convite. De repente, tudo fica muito claro e nítido. A isto temo alucinadamente. Seu passado te condena, sua cara não mais me excita. Um pé com o dedão trincado, um braço forte, o esquerdo, tatuado. Todo fodido e mal humorado... e outras impressões se repetindo, o telefone, a pista de dança. Mil tentáculos pelos poros que persigo.

- Você tá indo prá casa?
- Tô.
- Não quer ir ali comigo?
- Ali onde?
- Ali.
- Ai, que delícia.

Mais uma antes do fim. Mais quantas até depois do fim? O mundo gira e isto não é novidade alguma, nos traz sempre de volta aquilo que um dia tratamos de fornecer. Mas aí eu te pergunto rapaz, vale a pena ser? Tanta gente a nos observar, até mesmo a nos olhar sem nos ver. Tudo muito simples e óbvio. O arrependimento de um certo adeus que tantos anos demorou pra acontecer ou simplesmente se manifestar. E você? Quanto tempo neste papinho pseudo-descolado de relacionamento aberto? Não tem jeito, eu misturo tudo, por isso sou eu. Eu sou por isso.

- Você estava bem nervoso à mesa esta noite...
- É ?
- É, o que acontece ?
- ...
- Sua mão tá quente.
- Vem cá, deixa eu te dar um último beijo.
- Tá vendo? Eu tremo todo só de pensar neste beijo.
- Mas tem que tremer mesmo, senão não tem graça.

SÁBADO


Duas diferentes noites, aqueles braços novamente no bar.
- Tá legal hein ?
- Já cheguei assim.
- Chegou onde ?
- Ao mundo !

Três diferentes noites, aqueles braços repetidamente no bar.
- Te vi quando cheguei...
- Ah... e não mexeu comigo porque ?
- Você tava um pouco longe...
- Pois eu te agarrei na mesma hora que vi.

NOITE



Parte I


Com os olhos fechados, ainda vejo focos de luzes piscando. Batidas e levadas, calor nas mãos. Um inquieto delírio nos ombros. Bom, muito bom. Assim, sem mais nem menos? Do que você está falando? Um empurrão. Latência em pequena multidão. Corro, sem destino certo. Giro, rodo, um movimento estelar nos ossos estalando. Porradas na madrugada. Violência, um maço de cigarros que se fuma sem vontade. Uma dúzia de cervejas e sua cara sempre no banheiro. Desmentindo promessas juvenis de uma paixão igualmente pueril. Não se espera nada da sorte para que ela aconteça. Mas teve aquela que me arruinou, exatamente quando se confirmou. Eu desejei tanto, tanto, tanto... que cheguei a duvidar. E hesitei. Na anterior não. Fui até o fim de um amanhecer melancólico, frenético nas articulações de uma cidade ambíguamente confusa. Confissão. Me livra deste clichê absurdo. Me dê uma droga de garantia para a semana que vem. Giro, rodo, quantas vezes? Sem medo do ridículo. Ah, que nada, somos tão ridículos em nossos rituais por natureza meu bem. Somos feitos de silêncio e sons. Fomos condenados por nós a uma liberdade eterna, a uma inútil crença de que podemos ser aquilo que quisermos. Que nada pode nos deter senão a morte. A morte virá à noite? Ou será numa tarde quente? É certo que ela virá. e que seja breve, como o intervalo de breu e luz desta pista. Relâmpagos de toda urgência contemporânea. Trovões de um passado próximo. Ontem á noite. E esta continuidade a qualquer preço. Querem uma história? Descendo para a pista, vi ele e seu amigo ali, quase indo embora. Dançava. E vi que retornando, procurava por mim. Puxei-lhe pela camisa. Olhei de perto, para sentir-lhe o cheiro. E foi neste instante nosso primeiro beijo. Música acelerada em pulsação estagnada. Me leva para casa. Me leva para outro lugar. Me leva para qualquer lugar. Mãos dadas por alguma outra manhã. Telefone trocado por alguma outra manha. Outra dose. Sua cara branca e bêbada sob a vermelha luz do bar. Violência na tv. Tira esta mão daí. Põe aqui, agora relaxo, na noite que vem será diferente. Sempre é.

DE ENCOMENDA


Esta é para você
que enche o rabo de álcool
e sai por aí
flertando e blefando
com a sorte
com o azar
pois no jogo e no amor
existem pólos
inversos
mas controversos
são nossos modos

Não falarei de mim
somente
permito me
observar te
observando
vai sem se despedir
que atiro migalhas
do meu afeto
uma rajada
de carência e imprudência
este nosso amor
tão velado
quase morto antes de nascer
quase louco antes de se perder
medidas breves
ânsias e transparências
escapes
do teu orgulho
do teu controle
eu sorrio por te deixar
eu sorrio por te levar
repetidas vezes
dando de ombros
teu abraço é
um laço
um maço
um lapso
um cagaço
logaritmo logrado
que quero só prá mim
já que esta é prá você
pode ser?