quarta-feira, 30 de setembro de 2009

FATO


Homem que não bebe cerveja nunca presta para muita coisa.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

CABINE


Eu gosto de versar sobre a noite
Quisera eu fosse ela eterna
Com o perigo sempre a espreita
em cada esquina
E suas promessas sempre
aptas a se cumprir
Todos os vícios convivendo
Em louca harmonia
Junto a indelicadas luzes
De todas as cores em infinitas órbitas
O fogo regendo todas as almas
E uma incessante música
Acariciando todos os corpos
Livres de qualquer gravidade
Eu gosto de versar sobre a noite
Quisera eu fosse ela eterna
Todos os astros sempre
pulsando em espacial celebração

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

DANÇA


Uma noite que ainda não se fez
Temores aliciados
Frases vacilantes
Corpos delirantes

Brutal suavidade
Anestesiando-lhe os lábios

Eu desconheço o calibre do teu olhar
Confuso com tantas cabeças
Com as mesmas sentenças
Armando romances
Avaliando relances

Jogos de letras e disparos
Ferimentos gozos alimentos couros

É só desabafo.
Vidraças estilhaçadas

Para mim e você
Todos sãos e sós
Todos péssimos e loucos
Todos metidos e gozados
Em guerras e bombardeios

Por cada beijo e amasso
jeito embaraço eixo desenlaço leito abraço

Tudo ali a espreita
Pelas costas
Coronhas e gatilhos
Munições e cinturões
Calores e calafrios

o inimigo é um reflexo inútil
pronto para atacar!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

INSONE


Quando toda a cidade adormecer. Na hora da última chamada. De ir para casa. De ir para a cama. Me lembrarei de você. Esteja onde estiver. Ainda procurarei em cada esquina. Tendo no pensamento teus movimentos agitados e suados. Tão cansados de amor e dança. Exalando todo álcool, toda pressa da semana. Nas pistas vazias... silenciosas. No trânsito livre. Na cidade pacífica, com o ar se purificando em sua soturna atmosfera. Ainda procurarei em cada bar. Tendo no pensamento teu corpo estendido e só. Com os beats desacelerados. A boca aberta, os olhos cerrados e as mãos entre as pernas. A grave respiração suavemente ritmada. Com o punch de tua presença desarmada e as luzes apagadas. Eu velarei teu sono homem. Rogarei por tua alma. Narrarei teus pecados tão aptos ao caos. Ainda que desconheça o paradeiro dos teus mais íntimos sonhos.

NOVELA


parte II


- Você não pode falar isso!
- Ah é? E por quê não?
- Ninguém diz um troço desses e sai impune.


Maldita hora aquela em que peguei naquela desgraça de orelhão e te acordei, tarde quente de feriado, para quê? Para irmos ao cinema. Merda! Merda! Merda! Pronto, falei mesmo e daí? Vi você se esquivando, e eu pensando: Não, não faça isso!!! Não deixa ele te beijar! Eu tô aqui... tô vendo pô...


Eu gritava por dentro!


Depois correu atrás dele, me empurrando. Quis te esquecer para sempre na mesma hora... Quis deixar aquele outro cara - de quem era super afim há muito tempo - sentar no meu colo, já que era a quinta vez que ele tentava nesta mesma noite. Mas não deixei. Lembrei do seu apartamento, olhei para as paredes, procurei pela frase do Rimbaud, e resisti. Resisti pela evasão que muitas vezes permiti ao meu eterno coração. O outro cara acabou pegando qualquer mané. Resisti pela coragem que teu sorriso me traz. Aqueles outros dois serão gratos a mim. Resisti por causa da árvore no seu escritório, que fica no quarto andar. Será que foi você quem carregou ela até lá? Seu prédio não tem elevador. Seus braços são bonitos. Gosto quando me tiram do chão.


- Senta mais perto, você tá tomando muita chuva aí.
- Você não me disse muito do que eu gostaria de ouvir...
- Você disse menos ainda.
- Pode ser qualquer lugar mesmo?
- Hum?
- Depende de mim você ir embora, é isso?
- Não, não, não é isso... mas seria muito melhor se me acompanhasse.
- Então vamos!
- Espera aí, vamos onde?
- Vem comigo que no caminho te explico.


Mas voltou, voltou e gritou meu nome. Tá, eu vou ficar remoendo esta migalha, essa miséria de abraço que foi provavelmente um milésimo de segundo do efeito da bosta de uma droga moderninha qualquer que provocou uma descarga - descarga! - de infame energia. Mas voltou, voltou e ficou lá, o mais viril da pista de dança, com os punhos cerrados e os olhos voltados para dentro. Como um boxeador após nocautear alguém. Mais tarde, nem tão tarde assim... me segurou pela cintura e hesitou tanto por causa desta porcaria de telefonema. Ódio, tanto ódio que chega a doer. Tudo bem, me desculpo sem razão, falo que gosto de você, da sua voz e vou embora. Sei sim, sei que muito do que digo não deveria nem pensar.


- Aquele dia, ao telefone, você ficou puto comigo.
- É, fiquei mesmo...
E só me lembro do absurdo!
- Absurdo.
- Absurdo? Absurdo é o quê hein? Eu ter te ligado? Você ter me levado para sua casa? Ou seja... eu - um maluco de suspensórios que foi chupado por você um final de semana inteiro, enquanto ria a seu contragosto, que foi espremido atrás de uma banca de revista por seus braços de remador - pensar que poderíamos ir ao cinema no feriado? Então me diz, que absurdo maior eu posso cometer? Hein?? Hein???


- Amanhã eu tenho que remar. Já tô indo embora.
- Eu também tô indo embora.


Tão bêbado e trôpego quanto cheguei em sua nuca com tímidos beijos, eu fui embora. Sentei lá fora e chorei. Mas só um pouco. Foi dos olhos prá fora. Feliz desta lagoa que te vê pelas manhãs.
Agora? Agora nada, somente mais uma cagada prá contar e divertir os amigos. Mas ele segurava a minha cintura. Se por vergonha ou medo? Sei lá. Mas segurou forte, pois me lembro nitidamente da sensação de ser segurado pela cintura quando na verdade queria com todo meu torpor um beijo violento. Sem mordida, somente um beijo daqueles de perder o fôlego. Um beijo que norteasse o resto da noite para sua cama.


- Você tem dignidade quando perde o fôlego desta maneira...
- Aquele cartaz ali fui eu quem fiz, demorei cinco dias colando estas bugigangas.
- Acendeu?
- Cuidado para não queimar o lençol.
- Você mora sozinho?
- Não, moro com meu irmão e o Mao.
- Mao?
- É! O gato, ele pensa que é um cachorro...
- Ele late?
- Não, mas...
- Você fala com paixão das coisas.
- Mas eu só tenho três paixões na vida: livro, maconha e trip-hop!
- Ai que lindo, adorei isto. Me dá um beijo?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

VELOZ


Tinha braços fortes e era bem baixinho. Muito baixinho. Mas eu gostava assim mesmo. Em noites frias, atrás da banca de revistas, ele sabia equilibrar-se no skate, abraçar apertado e beijar molhado. Tudo ao mesmo tempo.

CASAMENTO


Fui num sábado a noite de pouco movimento e muita chuva. Quando chegou, eu mesmo seria incapaz de imaginar a que veio. Sorria aquela boca de loucos beijos. Foi logo me chamando na xinxa. Tão alto e bonito. Com sua careca muito branquela refletindo a luz vermelha daquele bar. Larguei coqueteleira, gelo e avental para dar-lhe atenção. Pegou minha mão, me sentou num canto, ajoelhou-se no chão mostrando suas coxas muito branquelas de bermudas, me encarou e foi logo disparando:


- Vamos casar?
- Oi?
- É, casa comigo.
- Como assim?
- Casar meu filho, sei de um apartamento aqui perto para alugar. Já está tudo certo...
- Você está bêbado!
- Compro uma cama king-size também! Casa comigo?
- Você está muito bêbado!
- Deixa de chaturinha, levo computador, não se preocupa.
- Cara, você está realmente bêbado, o que você andou bebendo?
- Você tem que levar alguma coisa... o enxoval é por sua conta. Mas o aluguel tem que ser dividido.
- Você está bêbado, não vale!
- Pára de falar que eu estou bêbado, eu sei disso ... tô querendo que você seja meu amorzinho, casa comigo?

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

MUEZIM


Ontem pela noite, levitando de bar em bar, bebi o gênio da garrafa. Adormeci contigo invadindo meus sonhos. Sorria sem vergonha, cantando coisas inaudíveis com sua grave voz. Eu era disputado pelo brilho do dia e pelo breu da noite. Pois sonhar contigo é versar o horizonte infinito fugindo pr´um deserto sem destino. É perceber que estamos nas mãos do senhor dos mundos. Mas já que Ele nunca coloca dois corações no peito de um homem, como podes tu caber junto de tantos outros no meu? Realizava teus malucos desejos como ordens... aí acordei com uma vontade danada de mijar!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009


Agora vou te entristecer. Não quero me desculpar, nem posso pedir que me ajude. Mas vai, vê: não fica com raiva. Não tô afim de outro, nem de você. Gosto do teu sorriso, das loucuras que aprontamos pelas madrugadas na rua. Das contas divididas pelos bares. Ainda fico duro, mas chega da minha cara de pau. Sou eu apagando teus cigarros pela metade. Continua na boa, tenha fé no coração que gostei de te conhecer. Quero ver seus olhos alegres mesmo que seu telefone não toque. E que teu gigante corpo continue a crescer. Foi uma bela promessa, mas agora eu vou te entristecer...

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

NEGROS


- Alô?
- Oi...
- Tudo bem? Quanto tempo!
- Tudo bem... bem longe de babacas como você.
- Como?
- É isso mesmo.
- Que estupidez, por q...
- Cai fora!

Ah... meu amor de férias. Tão jovem, cara de estudante, grossas coxas brancas. Dentes claros e uma saudável combinação de dissimulada confiança com imaculada aura juvenil. Conheci-o na pista. Não lembro a música e nem a hora. Botei minha Heineken gelada em tua nuca. Embacei teus óculos com minha respiração. Tirou meus pés da pista. Perguntei teu nome, me beijou a boca. Teu nome repetia-se naquela pista. E no tempo que passou. Tanto nome para se ter, mas justo este? Caminhamos juntos para a tua casa... Não será necessário esmiuçar o restante desta história. Nenhuma carícia inédita para revelar, nenhuma regra pré estabelecida para se forjar. Meu esperto amor de férias. Ornado com urgência, despido de recato. Apelidado de qualquer diminutivo... Cresço em apego. Cresço dentre as pernas. Só por lembrar aquela promessa não cumprida. Acabadas estas férias, retorna para casa. Carrega meus gracejos. Volta no ano que vem. Que descarrego minha cerveja sobre ti. Minha metralhadora etílica cheia de mágoas. Esqueço tua voz, mas não do falso conforto por ela provocado. Ainda brincaremos em outras pistas. Seremos imbatíveis e inseparáveis. Em nosso teatro de fim de ano. Marcando o tempo livres de qualquer realidade. Um e outro. Já estivemos em ambos os lados meu amor... Conhecemos os opostos sabores de nossos corações sem dono. E cada interferência assistida é apenas o mascar de gatilhos viciados mirando a nossa própria cegueira. Sinceridade para quê? Quero-te feliz ainda que cego. Quero suas lágrimas ainda que morto. Teu corpo entrincheirado numa pista de dança extasiante. Confundo teu nome no tempo. Me perdoa senão faz muito sentido. Teu nome será sempre o mesmo. E teus olhos tão sinceros quanto olhos podem ser. Serão sempre meus. Na riqueza ou na pobreza. Teus olhos de Libanês. Na distância ou na doença. Teus olhos de Hezbollah. Na alegria ou na tristeza. Teus olhos de oriente médio. Até que a morte nos separe. Malditos olhos de Beirute!