segunda-feira, 14 de setembro de 2009

NEGROS


- Alô?
- Oi...
- Tudo bem? Quanto tempo!
- Tudo bem... bem longe de babacas como você.
- Como?
- É isso mesmo.
- Que estupidez, por q...
- Cai fora!

Ah... meu amor de férias. Tão jovem, cara de estudante, grossas coxas brancas. Dentes claros e uma saudável combinação de dissimulada confiança com imaculada aura juvenil. Conheci-o na pista. Não lembro a música e nem a hora. Botei minha Heineken gelada em tua nuca. Embacei teus óculos com minha respiração. Tirou meus pés da pista. Perguntei teu nome, me beijou a boca. Teu nome repetia-se naquela pista. E no tempo que passou. Tanto nome para se ter, mas justo este? Caminhamos juntos para a tua casa... Não será necessário esmiuçar o restante desta história. Nenhuma carícia inédita para revelar, nenhuma regra pré estabelecida para se forjar. Meu esperto amor de férias. Ornado com urgência, despido de recato. Apelidado de qualquer diminutivo... Cresço em apego. Cresço dentre as pernas. Só por lembrar aquela promessa não cumprida. Acabadas estas férias, retorna para casa. Carrega meus gracejos. Volta no ano que vem. Que descarrego minha cerveja sobre ti. Minha metralhadora etílica cheia de mágoas. Esqueço tua voz, mas não do falso conforto por ela provocado. Ainda brincaremos em outras pistas. Seremos imbatíveis e inseparáveis. Em nosso teatro de fim de ano. Marcando o tempo livres de qualquer realidade. Um e outro. Já estivemos em ambos os lados meu amor... Conhecemos os opostos sabores de nossos corações sem dono. E cada interferência assistida é apenas o mascar de gatilhos viciados mirando a nossa própria cegueira. Sinceridade para quê? Quero-te feliz ainda que cego. Quero suas lágrimas ainda que morto. Teu corpo entrincheirado numa pista de dança extasiante. Confundo teu nome no tempo. Me perdoa senão faz muito sentido. Teu nome será sempre o mesmo. E teus olhos tão sinceros quanto olhos podem ser. Serão sempre meus. Na riqueza ou na pobreza. Teus olhos de Libanês. Na distância ou na doença. Teus olhos de Hezbollah. Na alegria ou na tristeza. Teus olhos de oriente médio. Até que a morte nos separe. Malditos olhos de Beirute!