sexta-feira, 28 de agosto de 2009

NOVELA


parte I


- Daqui a pouco não vou poder nem encostar em você...

- Não mesmo, já sofri muito por hoje.

Vaidade. Quem se precipita agora, é ele. Aparecendo nas tardes da semana,passando brevemente pelas mesmas noites... a toa, vagabundeando sem compromisso.C arência. Dispensando bebidas, fumando muitos cigarros, olhando com cara de piedade.

- Vai continuar estranho comigo?
- Estranho? (você sabe que fez por merecer)
- Vai pô, deixa rolar...
- E não estou deixando? (rolar o quê?)
- Eu sei que você não é assim, te conheço...
- O quê você quer de mim? (Ah, não conhece não!)
- Você não se cansa de responder com perguntas?

A última indagação foi outra indagação ou resposta para nenhuma delas? De repente o diálogo torna-se a principal, quase única razão que nos une. Seus olhos ficaram um pouco mais tristes... e voltam-se para trás em toda e qualquer breve despedida. Reclamações e suspiros loucos num jardim qualquer. Aquele cheiro de merda, o gosto de álcool nos seus lábios. A tua boca amarga, ácida, doce, molhada.

- Você tá trabalhando demais!
- ...
- Vamos sair hoje?
- Vamos para a esquerda ou direita?
- Não, eu quero ficar por aqui mesmo... por enquanto.

Será que nunca nos encontramos em nenhum mísero lugar comum???
Ele caminhando com a mão dentro de calça. Me chamando de ridículo, hesitando um convite. De repente, tudo fica muito claro e nítido. A isto temo alucinadamente. Seu passado te condena, sua cara não mais me excita. Um pé com o dedão trincado, um braço forte, o esquerdo, tatuado. Todo fodido e mal humorado... e outras impressões se repetindo, o telefone, a pista de dança. Mil tentáculos pelos poros que persigo.

- Você tá indo prá casa?
- Tô.
- Não quer ir ali comigo?
- Ali onde?
- Ali.
- Ai, que delícia.

Mais uma antes do fim. Mais quantas até depois do fim? O mundo gira e isto não é novidade alguma, nos traz sempre de volta aquilo que um dia tratamos de fornecer. Mas aí eu te pergunto rapaz, vale a pena ser? Tanta gente a nos observar, até mesmo a nos olhar sem nos ver. Tudo muito simples e óbvio. O arrependimento de um certo adeus que tantos anos demorou pra acontecer ou simplesmente se manifestar. E você? Quanto tempo neste papinho pseudo-descolado de relacionamento aberto? Não tem jeito, eu misturo tudo, por isso sou eu. Eu sou por isso.

- Você estava bem nervoso à mesa esta noite...
- É ?
- É, o que acontece ?
- ...
- Sua mão tá quente.
- Vem cá, deixa eu te dar um último beijo.
- Tá vendo? Eu tremo todo só de pensar neste beijo.
- Mas tem que tremer mesmo, senão não tem graça.